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  • COTIDIANO CONSCIENTE

Solidão no homeoffice

Pesquisa aponta que 58% dos trabalhadores têm sentimentos negativos em relação ao trabalho remoto, como falta do convívio social e saudade dos colegas de trabalho.


Por Ana Clara Monteiro


No início da pandemia, o home office foi adotado como uma alternativa temporária para evitar a proliferação da Covid-19 e preservar a saúde dos colaboradores. Para empresas que já usavam este recurso como opção, fez da exceção uma regra. Para as corporações que passaram a adotar este formato, tudo era novidade. Porém, mais de um ano depois, já houve tempo suficiente para sentir falta do escritório e colegas de trabalho. Principalmente, porque o trabalho remoto provocou uma série de transtornos emocionais, já que os trabalhadores começaram a sentir-se isolados.


Um levantamento feito pela Sentimonitor, uma plataforma de inteligência artificial, mostrou que 58% das pessoas entrevistadas expressam sentimentos negativos em relação ao home office, à falta de convívio social e a saudade de sair de casa, dos amigos e dos colegas de trabalho.


Para Maria Fernanda Lobato, analista de comunicação, a pandemia veio de uma forma bem desafiadora à solidão, porque foi o primeiro momento em que foi obrigada a vê-la como a companhia mais próxima que tinha em São Paulo, cidade onde mora há quatro anos.


“Aqui eu moro longe da minha família e dos amigos de infância, pessoas que me acolhem. Então, ficar dentro do meu apartamento 24 horas por dia, exceto os momentos que eu saía para ir ao mercado, foi extremamente difícil, porque não via mais as pessoas que eram próximas”.

A solidão pode provocar uma série de transtornos emocionais, já que o ser humano nunca esteve tão conectado e ao mesmo tempo tão só. Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos em 28 países constatou que o Brasil é onde as pessoas sentem-se mais solitárias, com uma média de 50% das respostas; e a pandemia agravou a sensação de solidão para mais da metade dos brasileiros (52%).


De acordo com a psicóloga Aline Perreto, a pandemia obrigou a fazer o máximo de coisas de dentro de casa e não imaginávamos o quanto isto seria possível até que fosse a única possibilidade. Então, foi necessário encarar com coragem um universo completamente novo.


“O home office teve que ser aprendido e desenvolvido conforme a realidade de cada casa. É como se fossem várias ilhas com peculiaridades que interferem no desempenho, na rotina e nas emoções de cada um. São realidades muito distintas: o modelo das casas, apartamentos e ‘apertamento’, qualidade da internet, bem como os equipamentos de trabalho, que, na maioria das vezes, acompanha o alcance econômico de cada ‘home’”.




Outro ponto que pode ser levado em consideração é que a própria casa virou o local de trabalho, portanto, além de ter a pressão de se manter produtivo, ainda é preciso equilibrar os problemas corporativos com as questões pessoais. E esta foi uma questão levantada pela Mariana Pina, analista logística de pessoas, que mudou-se recentemente para a Argentina e analisou que a mudança na rotina que envolvia se arrumar, sair de casa, pegar transporte público, além da estrutura que a empresa oferecia, a afetou consideravelmente.


“Quando você trabalha em escritório, dá o seu horário, você fecha o computador e vai embora e tenta deixar o trabalho na empresa. Em casa isso não é muito possível. Quando você está em casa, não troca de ambiente para descansar um pouco a mente”.

Além disso, não ter variações de ambientes de trabalho, como uma pausa para um café ou o horário do almoço para conversar com os colegas de trabalho, fez com que o emocional de Mariana ficasse sobrecarregado.


“No final do ano passado eu estava trabalhando direto e não tinha corte de ambiente, uma pausa mental, não via paisagens diferentes ao ir para o trabalho. Isso me fez muito mal. O trabalho esgotava os meus anseios de fazer outras coisas, como ver TV ou ler um livro e, assim, a única maneira de me sentir produtiva era trabalhando. Mas com a terapia eu consegui melhorar e entender melhor as coisas”.