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  • Foto do escritorRiserva Zen Yoga Life

A difícil — porém libertadora — decisão de “sair do armário”


Conheça a história de três pessoas que se assumiram para filhos, ex-cônjuges, família e hoje são mais felizes na aceitação de ser quem são


Por Mônica Kikut



Embora haja por aí um discurso de que a homossexualidade esteja “glamourizada”, na vida real assumir a orientação sexual não é tão fácil assim. Aliás, sair do armário é uma atitude de muita coragem.


Nesse texto, a Revista Entre Asanas mostra o depoimento de três pessoas, que viviam uma vida heterossexual, com cônjuges e filhos e não eram felizes. O kairós, ou momento oportuno, para a libertação dessas amarras foi diferente para cada um. Vencer o medo de rejeição foi uma das batalhas que eles tiveram que vencer.


Segundo a psicóloga Janaína Ferrão, esse medo de não serem aceitos pelos outros é um dos pontos de alguns viverem vidas duplas.


“Para a grande maioria, o processo da aceitação é difícil e ele vem, num primeiro momento, não a partir da própria pessoa, mas a partir da aceitação do outro. ‘Se o outro me aceitar, eu me aceito’. Com medo de não ser aceita pela família, pelos amigos e pelos demais à volta de tudo aquilo que ela construiu, a pessoa acaba vivendo uma vida clandestina. E essa vida dupla causa muita angústia, muitos sintomas de pânico”, declara Janaína.

Presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Bicalho credita a vida dupla à “LGBTQI-fobia” que está presente na nossa sociedade: o Brasil é o país que mais assassina pessoas LGBTQI+.


“Nós somos um país que retira direito dessas pessoas, tanto pela escola que expulsa, a Justiça, que não garante o acesso, as políticas públicas que discriminam e as pessoas que estigmatizam e proliferam discursos de ódio”, aponta Bicalho, que também é professor do Instituto de Psicologia da UFRJ.

Conforme Bicalho, a violência embutida num desejo diferente daquilo que é normalizado pela sociedade produz sofrimento e pode postergar a “saída do armário”.


“É esse sofrimento que faz com que as pessoas prefiram, muitas vezes ou até um determinado momento da vida, fingirem aquilo que elas não são ou desejarem aquilo que, de fato, não desejam. Isso não é uma escolha consciente. É um efeito direto na construção subjetiva de cada um de nós, em relação à violência impetrada pela sociedade e as relações de poder que constroem essa sociedade em que vivemos”, comenta.

Conheça essas histórias


Esperamos que você, leitor, se sensibilize com o depoimento dessas três pessoas que “saíram do armário”. Todos merecem ser felizes, independentemente de suas condições. Boa leitura! Namastê!



“Fiz 40 anos e pensei: estou na metade da minha vida. Preciso ser feliz”

Rubens*, 54 anos, professor


Sempre tive essa orientação. Sou o único homem de uma família com mais três irmãs. Em casa, falavam que eu tinha que ‘dar certo’. Eu fui sempre um filho exemplar, bonzinho com a mãe. Mas já sofria bullying na escola.

Entrei na igreja, fui catequista e lá conheci a mãe do meu filho. Na família dela, mulher só saía de casa, casada. Então, foi meio que unir o útil ao agradável. Me casei com ela aos 24 anos e meu pai me falou que estava aliviado. Ele tinha me pegado, quando moleque, com outro menino. Então, o casamento com uma mulher significava que eu não era gay.


Fui um marido certinho. Nunca me arrependi de ter casado, de ser pai de dois filhos maravilhosos. Me arrependo de ter colocado ela na minha vida e por dar essa mágoa, sabe. Eu tinha um casamento muito bom, mas não me sentia realizado. Tive uma vida dupla por uns dois anos. E não era bom pra mim, nem para ela.


Ao fazer 40 anos, pensei: ‘pôxa, estou na metade da minha vida e preciso ser feliz, tomar o rumo da minha vida’. Decidi me assumir. Sair do armário é um processo muito dolorido. No início, foi muito traumático.